Colégio Wolfram

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– Site Oficial do Colégio Estadual Dr. Wolfram Metzler / Novo Hamburgo, RS –

O não-muro parte 2

O não-muro do Dr. Wolfram persiste, teimoso e inacabado, como um paradoxo concreto. Em 27 de abril de 2024, a notícia ecoa: o muro caiu novamente. Não é o primeiro desmoronamento. Novo Hamburgo, cidade de contrastes e imprevisibilidades, testemunha mais uma vez a queda da estrutura que deveria separar, proteger, delimitar. Mas, no seu colapso, o muro se torna um símbolo de impotência, de burocracia que se arrasta, de promessas quebradas e da educação não vista.

É importante relembrar, em 08/03/2019, após um verdadeiro dilúvio, ele, o muro, desabou pela primeira vez sobre a calçada da avenida Nicolau Becker. A comunidade escolar, unida pela urgência, clamou por sua reconstrução. Mensagens de apoio, ofertas de doações e sugestões fervilharam. Alunos, professores, pais – todos queriam o muro de volta. Mas a autonomia da Escola Estadual esbarrou nos limites das coordenadorias e secretarias de educação. A espera começou. Nove meses se arrastaram, e finalmente, o secretário de Educação da época, Faisal Karam, assinou a liberação dos recursos, R$ 343.040,14 – valor da obra. Demolição, pré-moldado, tela, drenagem, cobertura, instalação elétrica, pintura. Tudo meticulosamente planejado, mas o tempo escorreu pelas frestas do muro. Seu Pedrinho, o vizinho pedreiro, com sua sabedoria de quem lida com tijolos e cimento, disse que faria tudo por um terço o exorbitante valor que fora licitada a reconstrução. Mas a burocracia não entende de peões e tijolos. A previsão era concluir a obra em 120 dias, mas o mundo mudou. A pandemia do coronavírus se interpôs, reduzindo equipes, atrasando o inevitável.

E assim muro se tornara um não-lugar, flutuava entre existir e não existir, um gato de schrödinger talvez. O Sr. Marc Augé sussurra: é um espaço de passagem, de circulação, onde atores transitam e desaparecem, nada mais. E Parmênides, o filósofo antigo, nos confunde: o que é, é; o que não é, não é. Simples e complexo, como um muro que se desfaz e se reescreve. Porém, entre idas e vindas, em 2020 a obra do famigerado muro terminou, ficou lindo e impávido, “jamais cairá”. Ora, será?

Eis que agora, a História se repete e o não-muro retorna e permanece, testemunha silenciosa da incompetência Estatal. Um dia, quem sabe, ele terá fim e em pé ficará. Ou talvez não. Afinal, o que é um muro senão uma fronteira entre o real e o imaginário?

Leia também a nota emitida em 2020 sobre a primeira queda do muro.