O Não-Muro
Em 08 de março de 2019, após um verdadeiro dilúvio na cidade de Novo Hamburgo, o muro do Colégio Wolfram Metzler desabou sobre a calçada da Avenida Nicolau Becker. A comunidade escolar logo se mobilizou para poder reerguer o muro, foram diversas mensagens de apoio e inúmeras sugestões para a reconstrução do muro, inclusive muitos alunos propuseram fazer doações para a escola poder custear a obra. Mas trata-se de uma Escola Estadual e como tal sua autonomia termina nos limites das coordenadorias e secretarias de educação do Estado, ou seja, reerguer o muro dependeria de ações vindas da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) e a comunidade escolar deveria sentar e aguardar, a comunidade escolar poderia confiar e aguardar.
Apenas, 9 meses após a queda do muro, o secretário de Educação Faisal Karam assinou a liberação do recurso para o início da obra em 18 de dezembro de 2019. O valor da obra, segundo licitação, é de R$ 343.040,14, incluindo a demolição do restante do muro, pois esse está com a estrutura comprometida correndo risco de queda, execução de muro pré-moldado, tela e drenagem, demolição da cobertura de um bloco de salas de aula danificado, execução da nova cobertura, além da nova instalação elétrica e pintura, segundo seu Pedrinho, meu vizinho pedreiro, ele e mais meia dúzia de peões fariam toda essa obra por um terço desse valor, tudo a preço de custo.
Após a liberação do recurso a previsão era de se concluir a obra em 120 dias, ou seja, em abril de 2020, lembrando que já estamos em junho de 2020 e a obra segue de vento em polpa, segue no início que se estende desde 18 de fevereiro de 2020, quando foi oficialmente a colocação da placa que informa o início da obra o início da obra.
É lógico que a demora para o término da obra se dá devido a pandemia do coronavírus, que desde de 08 de março de 2019, data da queda do muro, vem dificultando o andamento da obra, que reduziu as equipes de trabalho.
Fato é que nosso não-muro ainda está lá, sem existir. Como um não lugar de Marc Augé[1] que se apaga para se reescrever por atores que circulam a sua volta e logo desaparecem. Ou como um não ser de Parmênides[2], que determina que aquilo que é é e aquilo que não é não é, simples assim e ao mesmo tempo difícil de se entender.
Então, aguardamos, pois ao que tudo indica toda a obra que tem início um dia terá fim.
————————————————————————————————————————————————
[1] Marc Augé, antropólogo francês, lançou em 1994 sua obra Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade.
[2] Parmênides, filósofo pré-socrático, viveu entre os séculos VI e V a.C. em Eleia, cidade da Península Itálica, ou Magna Grécia